Ai, quem dera.
Agora, que desco esta estrada, sinto-me estranhamente. Hoje, o sol tinha nascido tão menino, cheio de luz e dessas coisas que eu poderia ter gostado durante mais tempo, quando era como este sol de hoje: ele resplandece tão fortemente no alcatrão que me sinto quente - quente só de o ver -, e começo novamente a pensar em aproveitá-lo; é tudo tão branco, e é já aquela hora em que estou por minha conta, e sinto pena de amanhã. Sinto pena de alguém, que penso ser eu, e entro numa compaixão pianíssima com as coisas. Acho que é melhor fechar os olhos e só andar e ouvir. Sinto-me quente, sempre que desco a estrada. Percebo que, hoje, é o sol que me deixa assim. Tudo isto, hoje, tornou-se quase numa paisagem idílica, nos confins do sítio de onde se nasce, e cresce, e possivelmente se querer morrer. Hoje, já rebentam nos passeios novas coisas amarelas. E a própria vegetação seca e castanha e dura, dentro dos muros, em busca do céu, ou pelo menos em pé, viradas para ele - tortas mas em pé -, olham para mim e dizem-me que são plantas com esperança. Mas estas próprias coisas acostumaram-se a não me contagiar; e eu tenho de pena de amanhã.
Ai, quem dera que a vida fosse só esta estrada a resplandecer ao sol, que eu andasse de olhos fechados, e, ao chegar a casa a arfar, alguém se levantasse da verde relva e me dissesse tão docemente: Ai!, que coisa boa chegou.
E eu nunca me canssasse disso: sempre Da Capo.