21 fevereiro, 2011

Poema incompleto














Pela súplica de dentro
Dou ao corpo o seu próprio torcimento -
E no entanto é ele quem se enrosca,
E que se me dá a nele enroscar-me,
E eu enrosco-me nele,
Ou ele enrosca-me em si,
E leva-me dentro para ser apertado
Como sardinhas enlatadas,
No próprio corpo de mim,
Pela pele que se torce.

E se a súplica é das que vem do mar profundo,
Tão fundo que já nem é mar e que por isso,
Volta a ser terra,
Porque tudo acaba na terra,
E me aperta contra o fim da terra,
Contra o fim de mim,
A gravidade das profundezas,
A pressão do fim das coisas,
Tão forte que é irreversível a submersão,
Digo daqui do fundo,
Já recuado até à primazia della natura (degli uomini e degli dei),
Feito um ser místico, andrógeno, inútil, inocente, sagrado, reprimido
Suprimido,
Enquanto me apertam -
Todas as coisas do fim de mim
Que não me deixam ser,
Porque se sou, sou o que quero ser:

IÁ! IÁ! Oh! Sou eu o meu próprio ranger da porta.
IÁ! Sou eu que tenho a força intensa
do meu próprio anulamento.
IÁ! Em mim se encerram os braços largos do acreditar.
Os braços que tudo apanham,
O querer absoluto que me afasta e que me eleva na partida,
Disperso,
E sozinho.

03 fevereiro, 2011

Vá, senta-te

Vá, vem, senta-te comigo. Toma este jantar que te fiz. Bebe este sumo que te preparei. Agora podemos conversar. Sei bem que o faremos, temos o tempo inteiro que não vai passar. Agora sentas-te e já não podes ir embora. Bem de nós que aqui ficamos. Querias ir mas agora ficas. Não precisas de te apressar, eu fico a olhar-te e a comida não vai arrefecer.


Da sophie