17 fevereiro, 2010

Uma andorinha total

Morremos pela boca. Tudo pela boca. Dizemos pela boca e pecamos pela boca. Comemos pela boca, e adoeçemos pela boca. Tudo pela boca. Se não tivéssemos boca, senão disséssemos nada, as coisas seriam o que realmente devem ser; não seriam o que se diz que elas são, nem se diria que se ama nem se diria que se tem saudades, e, sem boca, seriamos apenas coração. E as coisas, o que seriam? Seriam o que realmente devem ser, ou seriam o mesmo do que pela boca são? As coisas seriam o que o coração seria. E o coração seria o que as coisas devem ser. Morre-se pela boca. E quando se fala pela boca, alguém fala pela boca também, e às vezes fala-se tanto pela boca, mesmo quando não se diz nada, e às vezes também morremos, como quando cai uma andorinha e não se sabe se vêem mais.