20 abril, 2010

Well, I've been down so goddamn long that it looks like up to me


Into this house we're born Into this world we're thrown Like a dog without a bone An actor out alone
Riders on the storm

There's a killer on the road His brain is squirming like a toad Take a long holiday Let your children play If you give this man a ride Sweet family will die
Killer on the road, yeah

Girl you gotta love your man Take him by the hand Make him understand The world on you depends Or life will never end
Gotta love your man, yeah

10 abril, 2010

15 de Agosto, Lembras-te?

Viera a passar uma mão pelo peito em sinal de sufoco.
Um cotovelo suspenso, um calcanhar pesado.
Debruçada sobre a sua ânsia, remoída na sua curiosidade, chegou, enfim, ao fundo da falésia, e não viu senão um grande mundo virado de pernas, com grandes soluços que soltavam gemidos, que eram filhos de gritos, e que tinham filhos de filhos de braços abertos que chamavam aos céus duros porque tinham eles varrido as nuvens para debaixo das atenções,
Tão nubladas quando respiras, e enfim ouve-se: Oh!
E mergulha.
E mergulha desta vez com tudo o que esperou desse mundo e também do outro. Não era responsável sobre si, nem sobre o seu corpo, nem pela cidade.
Que vento tão longo que me arrasta, minha vida, pesar vosso, meu pé de rosmaninho.

07 abril, 2010

Flash, Um Retrato

Sim, ela sabe precisamente quem é: alguém que não reconhece existir de facto. Por isso, mesmo não tendo sido colocada no centro, cuja posição pertencia então aos alicerces, à bisavó, ao bisavô e ao pai - os três, quase como estatuária, em cadência e em quebranto - ela assumia negligentemente o papel fundamental; em toda a sua presença reflectia-se precisamente esse reconhecimento de não estar mesmo ali, de não saber pertencer ali, de não declarar com autentificação conhecer esses homens e essas mulheres e agir de certa ou de outra forma com eles, de não ter percebido descender realmente daquelas pessoas, e ser sua irmã, sua prima, sua filha, sua neta, sua sobrinha - no fundo, alguém que descende de alguém e em quem se espera que também conceba. O que é isto? Ela assumia, tão depreocupadamente, com uma mão que cai no próprio ombro e outra que cai suspensa, o papel mais evidente - o qual o artista procurou nitidamente revelar - que era, dessa forma, bem nítido o facto de que ela era, como eu, o próprio observador do retrato a que ela mesma pertencia, e que, à medida que o meu olhar discorria lentamente sobre as figuras, como com uma vaga dormência de um bocado de pó que ofusca e distorce, ela pertencia tanto ao lado de dentro como ao lado de fora, e chegava mesmo a estar ao meu lado, observando-se também, como se a fotografia fosse, de certo modo, um espelho. Mas tudo isto são só metáforas, porque o que acontecia realmente, em todos os recantos do seu corpo, em todos os gestos da sua presença, em todas as cadências, recuos e gracejos da sua tumultuosa existência interior, que era como a queda em buliço de um riachozinho que cava os seixos, era que ela própria era um espelho; era o seu espelho, e ao agir, ao ser, ao fazer, o que quer que fosse, ora ela fazia ou se via, ora ela era ora ela se observava, se apreciava, se comentava, com frases quietas e pouco avassaladoras, que se contrapunham assim às interjeições e enfatuações mais íntimas de oh!'s e ah!'s, ou mesmo de ei!'s, das figuras restantes que deste modo pareciam reagir-lhe.
A composição era notável. Não havia simetrias imediatas, paralelismos claros nem analogias levianas, e a cor tinha sido infimamente estudada, a luz era mais proeminente na parte de trás, e o grupo era quase uma imagem de santuário; o tapete era rebuscado, a janela coberta por cortinas brancas meio translúcidas que faziam adivinhar um jardim no fim de tarde, com cedros e pinheiros; todo o conjunto era literalmente escultórico, cheio de modelados que se cruzavam entre as figuras e que as cercavam; a composição deixava indícios de um maneirismo ainda elementar, e as personagens, mesmo violentas no modo como caiam no espaço e dispunham os seus braços soberanos e dominantes, moldavam-se entre si afectadamente. Havia qualquer coisa trascendente, que pairava, que nunca tinha pertencido ao mundo, nem mesmo nos tempos bíblicos. Todos estavam presentes, mas também todos estavam quietos, e pareciam, mais do que querer ficar ali, não sair de lá, como se cada avanço do tempo fosse uma vantagem para a ruína; para a ruína dos tectos em que se encombriam, das paredes em que se encerravam, dos tapetes que pisavam, das janelas que trancavam, dos parapeitos em que se apoiavam, das consciências que partilhavam, uns dos outros.