16 julho, 2010

Vuuuuuuuuu. Vuuuuuuuuu

É porventura necessário deixar o ar entrar; abrir as janelas que estão lá fora, ao relento lá fora, e que deixam o ar entrar quando está sol. Levam uma vida tão submissa, as janelas; estão tão coitadas de si mesmas, assim, atrás das portadas, sempre à espera que haja sol, pacientes por um vento que seja preciso cá dentro, para lavar a casa e para passar a sua arajem sobre a dormência da noite, das camas, da sonolência dos móveis, do espaço vazio. Pois desta vez, decido por fatalidade que as janelas estejam sempre abertas, que se abram no meio desta tempestade, que não é tão forte lá fora como é a tempestade de cá de dentro. Só que lá fora o temporal move-se, abana tudo, faz as coisas baloiçar. E cá dentro, a tempestade solidificou, congelou-se; ela não causa nada, mas está cá, no entanto, e faz parte da mobília que enche este espaço dormente, e que está vazio de coisas que se movam; o temporal de cá de dentro contagiou a casa, contagiou as portas, as mesas, as camas, o ar fechado - porventura as janelas permanecem a meio passo entre a doença (que é a da dormência e a da loucura) e a janela aberta que abre o ar de lá de fora, e o deixa entrar cá para dentro. Decido então que se abram as janelas e as portadas e que a tempestade entre. Que venha a tempestade! Que desarrume tudo, e que as janelas sintam uma vez que seja um vento que deixe tudo de pantanas, que não seja aquele sol morto de sempre, que vem deixar tudo no mesmo estado e que leva só o cheiro. Desta vez, que leve tudo, que lave tudo, que corra por aqui adentro, a subir as escadas e a descer, a bater as portas, a quebrar o temporal terrível que cobriu as minhas coisas.