23 setembro, 2009

Um grito

Acordar, e o corpo descalço, e a manhã clara, e uma mão na cama, e a paz.

18 setembro, 2009

Work Me, Lord

Janis, the worst you can say all about me is that i'm never satisfied. Whoa.

08 setembro, 2009

Foi um homem que esperou

Já nenhum pássaro canta a estas horas e Thomas Janson apoiou-se de ombros no balcão da bilheteira. Está fechada. Da noite, entrava para dentro um sopro frio de folhas cansadas que o inverno indelicado não evita em alcançar: a entrada está cheia de coisas vazias - que se levantam penosamente, giram, e esmorecem mais distantes, numa distância mais próxima, tão próxima como o vento. Thomas encosta-se verdadeiramente ao balcão desta vez - não faz parte do cenário e agora torna-se num público nebuloso que desaparece atrás do espaço. Encolhe-se no casaco. De todas as vezes que o vento sopra, o tempo urge, e o tecto ameaça uma ruína improvável, por um ruído imprudente que lhe enche os pulmões, como se o coração também esperasse a queda das coisas - ou uma companhia semelhante. Há três alguéns fora da estação, que olham repetidamente pelos vidros, todos numa pose de alcateia, muito clara, amplificando-se sob o fumo de um e de outro cigarro. Às vezes, passeavam-se do lado de dentro, movendo-se como um carcereiro, e reparavam se toda a gente os reparava, e toda a gente eram dois ou três, e Thomas Janson incluia-se desta vez, porque esta ambulação transpunha-o para o lado de sempre, sob o olhar vigilante que não era o seu. Um guarda, que empregado já está despedido, espera que a manhã venha, para se desempregar de novo na noite seguinte. A senhora do guichet aberto ri-se pausadamente - e ninguém reconhece que ela pertença ali, ou talvez seja somente um vestígio do surrealismo, que as mentes perturbadas não aborrecem em repetir. Dentro de trinta minutos, tinham errado somente três comboios vazios pelas dormências das plataformas - isto supunha-se cá de baixo e três vezes assim se ouviu um eco digital que não sonha, nem pede, nem morre, mas só anuncia. O telemóvel ressoa dede as profundezas do bolso e os faróis de um automóvel acendem a rua. Mas sim!, é o frio invernal de um inverno tão cansado, que o faz amar estar assim tão sozinho ali, através de um sopro que congela a verdade das coisas, num espaço em que não existe nada, senão a vontade de ir e a vontade de chegar.