27 novembro, 2011

A partir de aubanne

Subimos a povoação até à beira da colina.
Seguimos a estrada sinuosa que descarrila no sossego ambíguo da floresta.
Ouvimos a presença de água que corre, soubemos de imediato, a água soluça nas saliências, contudo não tem soluços.
Pensámos em seixos que moderam a corrente, que obrigam a água a cometer difracção em redor dos seixos, porque a água se bate não reflecte, a água só mantém, contornando, seixos que pontuam a sua agitação linear em direcção ao fim.
Pensámos em seixos e reconhecemos que de facto a existência de seixos e de uma corrente que os menciona é certa em determinado ponto da floresta, pelo menos parcialmente, na sua dimensão sonora.
Sabemos que existe porque o ouvimos, contudo aquilo que vemos não o inclui.
Vemos um fragmento de floresta preenchido pela multiplicação dos troncos resistem à colina tendencialmente vertical, que nos remete para um universo genérico de floresta, que simultaneamente nos informa sobre esta floresta e que contudo não é esta floresta.
Aquilo que vemos apenas se relaciona portanto com a corrente de uma forma bastante simbólica e indutiva, contudo somos levados a crer na sua existência. O fora de campo preenche o enquadramento e informa-nos acerca de alguma coisa que nos promete a possibilidade de ser concretizada mas que não o será necessariamente - é indispensável romper o perímetro da floresta com o corpo e mover esse organismo de placas motoras e de placas receptoras, sendo que incluímos na última a possibilidade de concretizar visualmente as nossas expectativas - e é com essa intenção que progredimos.
Tomando mais atenção, ouvimos ainda o ruído branco da floresta, que até certo ponto confere consistência ao facto de existirmos num mundo que desse modo adquire um carácter verosímil. O ruído branco é cantado pelos milhares de minúsculas folhas que assobiam indiscriminadamente uma frequência distinta, e então somos perseguidos pelo espectro total do som, que continuamente se anula e duplica, conforme as suas fases se cruzam.
Chegamos ao ribeiro, à corrente.
Dizemos tome o meu coração, é só por si que ele bate.

1 comentário:

Mariana Castro disse...

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